sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Novas críticas sobre Cosmópolis por Críticos.com.br



O personagem central de Cosmópolis, interpretado (?) por Robert Pattinson, é um milionário que quer cortar o cabelo na barbearia que frequenta. Mas para isso precisa ir de um ponto a outro da cidade em um dia especialmente confuso em termos de engarrafamentos, crises internacionais e boletins econômicos que mostram que ele está perdendo milhões por minuto.

Com atitude de indiferença, ele recebe em sua incrível limousine uma amante (Juliette Bionoche), uma consultora (Samantha Morton) e vários outros personagens com quem mantém um diálogo que pode variar em duração: alguns mais longos, outros, duram quase nada. Terminada a conversa (que pode ser acompanhada de transa sexual ou de exame médico com imagem e longuíssimo toque retal feito por médico para examinar sua próstata – dita “assimétrica”), cada um desses personagens não vai mais aparecer. Exceções são um segurança que o acompanha do lado de fora do carro e a mulher com quem se casou há pouco e com quem parece não ter vida sexual: com ela, ele sai da limousine para uma livraria ou para duas refeições em lugares muito simples para quem tem tanto dinheiro para perder.

Depois da ida à barbearia (por fim ! ), ele encontra ‘Benno Levin’ na pele de Paul Giamatti, um dos poucos encontros fora do super-automóvel. Ah! Também Mathieu Amalric surge em uma pequena (e ótima) participação fora do carro.

A estrutura do roteiro pode fazer lembrar alguma coisa do périplo vivido por Anthony Perkins no papel de Joseph K. em O Processo, filmado na década de 1960 por Orson Welles. Como o romance de Kafka é fragmentário, o filme também tinha essa característica, e Perkins encontrava com personagens que podiam sumir após breves aparições: era assim que víamos Jeanne Moreau em apenas um cena, Romy Schneider duas vezes, Elsa Martinelli apenas uma, etc.

Ingmar Bergman também usou, em seu último filme, Sarabanda, de cenas com diálogos, apenas dois personagens interagindo de cada vez… Mas David Cronenberg não é Bergman. Nem Welles. ECosmópolis ainda sofre de uma certa obviedade na abordagem dos temas que parece querer discutir: crise econômica, protestos mundiais contra crises e concentração de riquezas, indiferença dos mais ricos pela humanidade sofredora, etc. Recorrendo ao grande cinema do passado, lembramos que os melodramas de Luchino Visconti (Rocco, O Leopardo, Violência e Paixão) podiam dizer muito mais sobre os temas sociais que preocupavam o cineasta, usando da criatividade na construção de suas ficções sem tamanha concretude que, neste filme, não deixa boa impressão quanto ao tratamento do que pretende abordar.

Não conhecemos o elogiado romance de Don DeLillo, em que o filme se baseia. Mas o roteiro do próprio Cronenberg não funciona nada satisfatoriamente e o que fica é a impressão de muita pretensão para pouca capacidade de articular dramatúrgica e cinematograficamente a estrutura de sucessivos encontros com diálogos, o que vai levando o espectador a uma sensação de inevitável tédio. Chega ao paroxismo a tendência verborrágica que já se fazia sentir no filme anterior de Cronenberg, Um Método Perigoso e que deixava a sensação de “teatro filmado” (e falado ! ) ao longo de sua projeção. Pelo menos, era mesmo baseado em peça teatral. Desta vez, a recriação na tela de um romance mostrou-se totalmente inadequada.

É claro que sempre é bom ver Juliette Binoche (mesmo fazendo pouco, a atriz ilumina a tela) e Samantha Morton. Assim como estão muito bem Emily Hampshire, Gouchy Boy e Kevin Durand. Mas quem brilha mesmo é Paul Giamatti, no desfecho do filme. Mas só vai desfrutar do virtuosismo do ator quem agüentar chegar até lá.

Fonte// Via
IrmandadeRobsten

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