Nova Iorque (AP) – Robert Pattinson estava a aproximar-se do final das filmagens do último filme “Twilight”, concluindo um capítulo da sua vida que o tinha resgatado da quase obscuridade e se estava a preparar para o devolver… para onde exactamente? “Twilight” tornou-o extravagantemente famoso, mas os seus próximos passos eram totalmente incertos.
“Completamente inesperado”, diz ele, surgiu o guião para “Cosmopolis” de David Cronenberg, o reverenciado realizador canadiano de thrillers psicológicos (“Videodrome”, “Senhores do Crime”) que muitas vezes buscam o espiritual através do corpo. Pattinson, que nunca tinha conhecido ou falado com Cronenberg, fez uma pequena pesquisa: Procurou-o no Rotten Tomatoes “e ele tinha cerca de 98 por cento de aprovação”, diz.
“Foi tipo: Ok, este é o meu novo trabalho”, afirma Pattinson.
Pattinson tem agora a inevitável tarefa de lançar o seu filme mais ambicioso, o seu papel mais adulto, para uma tempestade mediática de que o instinto deveria sugerir que fugisse como se de uma matilha de lobos se tratasse. Promover “Cosmopolis” coloca Pattinson frente a câmaras e microfones pela primeira vez desde que a sua co-protagonista de “Twilight” e namorada, Kristen Stewart, pediu desculpa publicamente no mês passado por se ter envolvido com o realizador Rupert Sanders.
Essa circunstância embaraçosa, diz ele, é “dissociada” do filme e, até agora, ele-se recusado a usar a atenção para dar qualquer tipo de resposta pública ao escândalo. Pelo contrário, ele tentou desviá-la para “Cosmopolis”, um filme que, numa entrevista antes de ter ser premiado no Festival de Cinema de Cannes, ele disse que “mudou a forma como me vejo a mim mesmo”.
Se Pattinson está a ser compreensivelmente reservado acerca da sua vida privada, ele tem falado de forma leve, com coração aberto e humildade acerca das suas ansiedades como jovem actor. Aos 26 anos, Pattinson pode ser uma das caras mais famosas do planeta, mas ainda está a limar as arestas como actor – uma profissão, explica, pela qual nunca ansiou, onde caiu por acaso e sempre considerou desconfortável. A sua improvável trajetória começou com “Harry Potter e o Cálice de Fogo” e “Poucas Cinzas – Salvador Dalí”, onde interpretava Salvador Dalí.
“Depois fui escolhido para ‘Twilight’” e, de repente, transformou-se num mundo completamente diferente”, disse Pattinson, numa entrevista recente em Nova Iorque. “A maior parte das pessoas que tem a sua sorte grande, conseguem entender quais são as suas competências, e eu não consegui, mesmo”.
“Cosmopolis” é um tipo de filme radicalmente diferente que irá, certamente, confundir não só as hordas de fãs fanáticos de “Twilight” que estão na fila para o ver desde sexta-feira, como também os cinéfilos de filmes independentes. O próprio Pattinson viu-o quatro vezes para tentar perceber o que se passava ali.
A primeira adaptação para cinema de um romance de Don DeLillo, “Cosmopolis” é acerca de um financeiro elegante, Eric Parker (Pattinson), lentamente fazer o seu percurso no santuário sem ar da sua enorme limusine branca através do tráfego caótico de Manhattan com o simples objectivo de cortar o cabelo. Mas a viagem, que inclui visitas com a sua nova esposa (Sarah Gordon), uma prostituta (Juliette Binoche) e manifestantes do tipo “ocupa” (Mathie Amalric), é quase como que premeditada para Parker, que desapaixonadamente vê a sua fortuna desaparecer numa má aposta no yuan chinês.
“Ele é um egomaníaco que quer ver algum tipo de espiritualidade na sua egomania”, diz Pattinson. “É um pouco como os actores se vêem a si mesmos”.
Pattinson está em todas as cenas do filme, que confia na sua performance inexperiente e hiper-literata para conduzir o filme através da sua configuração limitada e do diálogo intensificado de DeLillo – muito do qual Cronenberg transcreveu textualmente a partir do livro. Embora alguns críticos tenham achado o filme estático e impenetrável (talvez objetivos propositados), a maior parte dos críticos elogiaram o desempenho de Pattinson, com muitos as citá-la como prova de que o galã sabe, de facto, actuar.
A linguagem estilizada e a natureza atípica do filme tornaram-no numa escolha arriscada e intimidante para Pattinson.
“Eu não conseguia, de todo, ouvir a voz da personagem. Não havia nada”, diz ele. “Era assustador dizer que sim a algo que sabias o que era. Eu sabia que era interessante, eu sabia que havia algo de especial mas não tinha ideia de como o fazer ou do que é que podia adicionar-lhe. Mas quando começas a dizer não a Cronenberg porque achas que não é bom o suficiente, é uma decisão estúpida a tomar”.
É claro que a celebridade alimentada por “Twilight” tem bastante peso sobre Pattinson, que diz que conhece pessoas que vêm os seus filmes “através de um contexto cultural”.
“Rob, ele é popular”, diz Cronenberg, num eufemismo inexpressivo.
“Eu nunca poderia ter escolhido Rob sem ‘Twilight’, assim como nunca poderia ter escolhido Viggo (Mortensen) sem ‘Senhor dos Anéis’”, diz o realizador cujos três filmes anteriores – “Marcas de Violência”, “Senhores do Crime”, “Um Método Perigoso”- são protagonizados por Mortensen. “O facto de alguém que tem influência ter vontade de fazer um filme difícil é uma dádiva para um realizador porque, não só estás a escolher o tipo certo como actor, mas estás a arranjar interesse financeiro e consegues fazer o filme. Este não é um filme fácil de ser feito”.
Pattinson parece estimulado pela liberdade de escolha que o espera depois do final da franquia “Twilight”, que será lançado em Novembro. Ele tem alinhado papéis em filmes corajosos, longe do formato blockbuster: “Mission: Black List”, um thriller militar, e “The Rover”, do realizador australiano David Michod (“Reino Animal”), um papel pelo qual ele diz que lutou mais do que qualquer outro anterior.
Embarcar em “Cosmopolis” parece ter sido um processo de deixar ir para Pattinson – de auto-conhecimento, de preocupação, de medo. Questionado se agora está certo de que é um actor, ele responde rapidamente: “Não”.
“Assim que começas a existir num determinado mundo, sentes que tens uma bagagem tremenda durante a maior parte do tempo”, diz ele. “Ficas preso nesta rotina onde queres que as pessoas pensem que és outra coisa qualquer, mas estás demasiado assustado para fazer o que é realmente ser outra pessoa".
“Depois recebes um presente como este filme, onde é muito mais fácil do que eu pensava que era”, diz ele. “Fazes simplesmente. Não interessa realmente se falhas”.
Fonte//Via
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